Segunda parada: Missão Artística Francesa – Jean-Baptiste Debret (França)
Saímos dos cafezais no interior paulista de 1930 e seguimos viagem para o Rio de Janeiro, voltando quase cem anos, chegando por lá no século XIX, em um Brasil colônia de Portugal, aonde a história e a Arte definitivamente se encontram!
Café (1823)
O Café já havia aparecido nessas terras, por volta de 1790, e foi deixando de ser uma produção doméstica para virar uma produção comercial já que foi na cidade do Rio de Janeiro e arredores, com suas terras montanhosas, que o café encontrou o solo e o clima adequados para sua frutificação.
A cafeicultura nesta região beneficiou-se também da estrutura escravista do país, sendo um sistema de plantio baseado na monocultura voltada para a exportação e o cultivo em grandes latifúndios, com a mão de obra basicamente de negros africanos escravizados. A transferência para o Rio de Janeiro, em 1808, da corte portuguesa ( e com ela cerca de 15 mil pessoas para morarem na cidade que seria o novo centro administrativo português até 1821) foi um marco no incremento da expansão cafeeira na região, especialmente com a exportação para a Europa e Estados Unidos.
Com a corte na cidade, precisavam de outras atividades que não apenas a religião. É neste contexto que, em 1816, o artista francês, Jean-Baptiste Debret (1768-1848) chega ao Rio. Ele vem por meio da “Missão Artística Francesa”, que trazia artistas protegidos por Napoleão Bonaparte e que, com sua derrota, perderam seu principal apoio ideológico e financeiro. Convidados por D. João VI, eles vieram ao Brasil para, entre outras ações, fundar a Academia Real de Belas Artes.

Litografia em Viagem pirotesca e histórica ao Brasil
Nos quinze anos que Debret passou no Brasil, pintou a Família Real, registrou os principais eventos políticos, como a coroação de D. Pedro I, escolheu as cores de nossa bandeira e, em 1829, realizou a primeira exposição de arte do Brasil. Contudo, sua principal contribuição foi a de documentarista de uma época: é por meio de suas pinturas, praticamente registros fotográficos, que podemos conhecer o que de fato se passou por aqui.
O café e Debret
As pinturas Comboio de café rumo à cidade (1826)
e Café Torrado (1826)
são exemplos relacionados ao café que mostram a precisão que podemos ter dos usos e costumes daquele momento histórico. Com suas obras, somos praticamente transportados para o Rio de Janeiro do século XIX.
Os negros escravizados
Considerado o “Ouro Verde”, o café representou o ciclo da economia do início deste século, e os negros escravizados, o sustentáculo desta economia.
“Tudo assenta, pois, neste país, no escravo negro”,
foi escrito por Debret sobre a importância dos negros na economia e cotidiano brasileiros.
“Utilizada em grande escala, durante um longo período, a mão de obra escrava era comprada, pelos cafeicultores, por meio do tráfico negreiro, ou adquirida no comércio interno, no qual os escravizados eram originários de engenhos e fazendas em processo decadente no Nordeste após o período do Ciclo do Açúcar”,
conforme relata Carlos Saraiva em “A escravidão no Brasil: do ciclo do café à abolição” ( com acesso integral aqui: http://www.geledes.org.br/escravidao-no-brasil-do-ciclo-do-cafe-abolicao/#gs.zJgBwLE ).
A pintura Feitores castigando negros (1834) retrata às violências aos quais eram submetidos:
“A rotina dos escravizados, nos cafezais, era limpar o terreno, plantar e colher. Após a colheita, o café era exposto ao Sol, num segundo momento, quando os grãos já se encontravam secos, eram batidos com vara ou moídos em pilões. Ensacado, o café era levado em mulas que eram conduzidas, por escravizados, até os portos de embarque” conta Saraiva.
A desigualdade social do Brasil colonial e como os negros eram tratados, desde a infância, foram pintados em Um jantar brasileiro (1827):
Nas palavras do próprio Debret (1839) “… a mulher se distraia com os negrinhos que substituem os doguezinhos (cachorros)…”.
Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil
A produção artística e historiográfica foi reunida pelo pintor em “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil ou Estadia dum Artista Francês no Brasil”, publicado em Paris, em 26 fascículos entre 1834 e 1839. O livro é o registro do cotidiano, as cenas da vida brasileira desta época, mostrando como as pessoas comiam, se vestiam, se divertiam, passeavam, como eram as ruas, a vida indígena, dos brancos europeus, dos negros africanos escravizados. No Livro, Debret, além das pinturas, descreve minuciosamente as cenas, ou seja, tudo aquilo que não podemos ver e captar com suas pinceladas.
As telas de Debret podem ser encontradas nos Museus Castro Maya (http://museuscastromaya.com.br ), localizados no Rio de Janeiro, que detêm a maior coleção pública de obras do pintor francês.

Para conhecer mais sobre Debret e a Missão Francesa, assista o documentário que foi incorporado à exposição Memória da Independência (Museu Nacional de Belas Artes, 1972-1973) organizada pela Divisão Cultural do MEC:
Continuaremos nossa viagem descobrindo mais sobre a relação da Arte com o café. E você, leitor e cliente, conhece alguma obra que revele esta conexão? Comente!
Não deixe de ler:
Primeira parada com Cândido Portinari.
Até a próxima parada, em mais um Café com Arte!
Carol Lemos – jornalista, mudou-se de São Paulo para Alto Paraíso, onde encontra inspiração para escrever e cuidar dos pequenos Uirá Alecrim e Dhyan Eté. Carol escreve semanalmente para o blog do Grão Gourmet.
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Respostas de 3
Eu sou apaixonada por todas as histórias do café.
Oi Inês! Tudo bem? Nós também somos apaixonados por essas histórias 😉
Continue acompanhando a nossa série Café com Arte! Um abraço cafeinado.
Vcs podem me dizer
Uma releitura da obra da “colheita do café “