Se você pensa que os australianos são obcecados por surfe e cangurus, saiba que tem mais uma paixão que ocupa lugar especial no coração (e na rotina) deles: o café. Não é à toa que a Austrália é conhecida como a terra dos baristas.
Por lá, o padrão de qualidade é tão alto que até a gigante Starbucks teve dificuldades de se firmar. Em 2008, das 84 lojas abertas no país, 61 fecharam, por baixa aceitação do público. Em 2014, a operação australiana foi adquirida pela Withers Group. Em 2025 o Starbucks é hoje uma presença estável com 60 a 70 lojas, embora jamais tenha conquistado o espaço que ocupa em outros países, servindo mais como um ponto de conforto para estrangeiros do que como uma alternativa competitiva para os locais.
Aproximadamente 95% das cafeterias australianas são independentes e comandadas por baristas que levam a profissão muito a sério e que desempenham um papel central na cultura do café do país.
Vamos entender como o café ganhou tanta força do outro lado do mundo?
Origens e tradições
Os povos aborígenes, primeiros habitantes da Austrália, ocupam o território há cerca de 70 mil anos, mas não há registros de que consumissem café antes da colonização europeia.
A colonização inglesa começou oficialmente em 1788, quando a Inglaterra transformou a região onde hoje fica Sydney em colônia penal. Os navios trouxeram prisioneiros, mantimentos… e os primeiros grãos de café, ao lado do tão tradicional chá-inglês.
Mas o verdadeiro impulso para a cultura cafeeira australiana veio só no pós-guerra. Dois fatores foram essenciais: a flexibilização nas importações de café e um novo programa de imigração que trouxe italianos, gregos e turcos — povos com tradição cafeeira.
Com isso, não demorou para o espresso conquistar seu espaço.
A primeira máquina de espresso foi instalada no Caffè Florentino, em Melbourne, por volta de 1928. A casa continua ativa até hoje, sob o nome Grossi Florentino.
Movimento dos "palácios de café"
Na década de 1880, Melbourne enfrentava um problema crescente com o álcool. Grupos religiosos, liderados principalmente por mulheres, deram início a um movimento de temperança que culminou com o fechamento dos pubs às seis da tarde e a criação de áreas onde bebidas alcoólicas eram proibidas.
Nesse contexto, surgiram os “coffee palaces”, ou “palácios do café”, como espaços de convivência social livres do álcool. O mais emblemático deles foi o Grand Coffee Palace, hoje Windsor Hotel. Seu diretor à época, James Munro, chegou a queimar publicamente a licença de venda de bebidas alcoólicas.

Perdendo força entre o crash econômico na Austrália em 1891 e a primeira guerra mundial, o movimento não durou para sempre, mas deixou sua marca: o café havia conquistado seu espaço definitivo na vida australiana.
Plantio e mecanização
A primeira plantação de café da Austrália teria sido feita em 1832, às margens do Kangaroo Point, em Brisbane. Em 1880, a cultura começou a se expandir comercialmente pela costa leste e norte de New South Wales.
Apesar de o café australiano ter ganhado prêmios internacionais, fatores como o alto custo de produção e a distância da Europa dificultaram sua expansão. Foi só com o avanço da mecanização a partir da década de 1990 que a produção cafeeira voltou a crescer. Atualmente, a produção cafeeira australiana, embora pequena em escala global, é altamente tecnificada e voltada à qualidade premium, com a mecanização sendo parte crucial desse diferencial.
A Austrália foi pioneira no desenvolvimento de colheitadeiras mecânicas de café. A primeira, chamada Coffee Shuttle #1 foi criada em uma fazenda no norte de Queensland e segue em funcionamento até hoje.

Café "clean green"
Hoje, a Austrália é reconhecida por seu café orgânico e sustentável. A expressão “clean green” resume bem a produção local: livre de agrotóxicos e com foco em práticas ecológicas. Isso é possível porque o solo montanhoso é naturalmente livre de pragas comuns em outras regiões produtoras.
A maioria dos cultivos fica nas terras de Atherton, no norte de Queensland, e em regiões do norte de New South Wales. Pequenos produtores abastecem comunidades locais e vendem online, criando uma conexão direta entre fazenda e consumidor.

Se você gosta de turismo de experiência, uma sugestão: viaje pelas regiões cafeeiras da Austrália, conheça pequenas plantações, converse com produtores e, claro, prove um café preparado com carinho e conhecimento.
Café: cultura e profissão
Na Austrália, ser barista é profissão levada a sério. É comum que jovens se especializem na área, estudem sobre torra, extração e latte art e sigam carreira em cafeterias de prestígio.
Foi da Austrália que saiu alguns campeões mundiais de barismo, sendo o último de 2022, Anthony Douglas. E não é raro encontrar baristas australianos entre os finalistas de competições internacionais.
Enquanto em outros países muitas bebidas são adoçadas ou misturadas com xaropes, na Austrália a busca é por um espresso bem extraído ou um flat white com leite texturizado no ponto.
Curiosidades
- A média de consumo per capita em 2022 foi de 6,7 kg por pessoa por ano, o dobro de 5 anos atrás, posicionando a Austrália entre os principais consumidores mundiais de café.
- Cerca de 75% do café consumido na Austrália é instantâneo, destacando a praticidade como um fator importante na escolha dos consumidores.
- A Austrália importou aproximadamente 95 mil toneladas de café verde não torrado em 2023, tendo como principal fornecedor o Brasil, com cerca de 25 mil toneladas!
Onde tomar café na Austrália?
Se você ama café, a Austrália é um paraíso. Cafeterias independentes, baristas apaixonados e uma cultura que valoriza cada etapa da produção fazem de qualquer xícara uma experiência.

Para começar, aqui vão sugestões do site oficial do país, em duas cidades imperdíveis:
Esses são apenas começos. Em cada esquina, um novo sabor, uma nova história!
E você, já conhecia a relação tão especial entre os australianos e o café? Comente aqui embaixo e continue explorando os artigos da nossa série “Café pelo Mundo” – conhecendo como nossa bebida favorita faz parte da vida das pessoas nos quatro cantos do planeta!
(Blogpost escrito em parceria com a jornalista Carol Lemos.)
Uma resposta
E com um café gostoso que tal comer aquele famoso Vegemite, um produto gastronômico que os habituados passam encima do pão com manteiga !
Agora tem no Brasil um similar com o nome de Cenovit, um extrato de levedura.
Além de passar no pão é muito usado como tempero no cozinha porque além de dar um sabor diferenciado, o Cenovit realça os sabores, tendo o efeito “umami”.
Um abraço, Patrick.