Sim, a China é conhecida por seu gosto pelo chá. Conta a lenda que, há uns 5 mil anos, o imperador Shennong descobriu o sabor do chá quando uma folha de camélia caiu acidentalmente em seu copo de água morna… Utilizado primeiramente com funções médicas, passou a ser a bebida mais consumida na China até hoje!
No entanto, nas últimas décadas, o país tem experimentado uma transformação significativa, emergindo como um dos mercados de café mais dinâmicos e promissores do mundo. Combinando história, produção local crescente e uma cultura urbana em rápida evolução, o cenário cafeeiro chinês oferece uma narrativa fascinante.

O café na China
O café chegou à China por volta de 1860, introduzido por colonizadores ocidentais durante o período das Guerras do Ópio. Cidades como Xangai, sob influência estrangeira, viram o surgimento de cafés que atendiam principalmente às comunidades ocidentais. Infelizmente, esses estabelecimentos muitas vezes excluíam os chineses locais, refletindo as tensões coloniais da época.
Durante a década de 1930, com a chegada de refugiados judeus fugindo do nazismo, Xangai tornou-se um refúgio multicultural. O Gueto de Xangai abrigou cerca de 23 mil refugiados, e os cafés da região tornaram-se pontos de encontro onde culturas se entrelaçavam, marcando o início de uma apreciação mais ampla pelo café na China.
Para quem quer conhecer mais sobre este episódio de nossa história, vale assistir “Exílio em Xangai”, documentário da diretora alemã Ulrike Ottinger.
A produção nacional
A produção cafeeira na China (sim, a China produz café!) iniciou-se por volta de 1890 quando um missionário francês plantou grãos na província de Yunnan, no sudoeste do país que faz fronteira com o Vietnã, Laos e Mianmar, localizada no coração do cinturão de café.
Tradicionalmente conhecida pela produção de chá, o famoso chá-preto ‘Pu’er’, a região também se mostrou adequada à produção de café.
Ao contrário do vizinho Vietnã, que produz Robusta, a maioria da produção da China é Arábica, principalmente da variedade Catimor, que muitas vezes é plantada junto ao chá.
É interessante que o Robusta seja utilizado para o café instantâneo que, vejam só, é amplamente consumido na China: 95% do Robusta utilizado no país é importado do Vietnã. O restante do Robusta vêm de Fuijan, província que originou as xícaras de porcelana de café no século XVII, e de Hanain, uma ilha semi-tropical localizada no Mar da China Meridional, que se estende para a Baía de Tonkin, que possui um comércio de café indígena e onde, na parte sudeste da ilha, as pessoas bebem o café da manhã com leite de coco (daí a origem do Bulletproof Coffee).
Atualmente, Yunnan é responsável por mais de 95% da produção de café da China, com destaque para a cidade de Pu’er, que produziu 58 mil toneladas de grãos verdes na safra 2023-2024. A região também tem investido em melhorias na qualidade, com cerca de 15% da produção atingindo padrões de café especial em 2023.
Mais café, 請 (por favor)!
Embora o consumo per capita de café na China ainda seja baixo em comparação com países ocidentais, o crescimento tem sido impressionante. Desde 2010, o consumo aumentou a uma taxa média anual de 21%, superando significativamente a média global de 1,8%.
Em 2023, o mercado de café fresco na China alcançou aproximadamente 162 bilhões de yuans (cerca de 23 bilhões de dólares), com projeções indicando que ultrapassou 193 bilhões de yuans (cerca de 27 bilhões de dólares) em 2024.
Uma cafeteria a cada esquina
A paisagem urbana chinesa tem sido transformada pela proliferação de cafeterias. Em 2023, o número de cafeterias na China ultrapassou 390 mil, quase dobrando em relação ao ano anterior.
A Starbucks, que entrou no mercado chinês em 1999, opera atualmente mais de 7.500 lojas no país, tornando-se seu segundo maior mercado global. No entanto, enfrenta forte concorrência de marcas locais como a Luckin Coffee, que já conta com mais de 21 mil lojas, adotando estratégias de preço agressivas e foco em tecnologia para atrair consumidores.

Inovações chinesas
O mercado chinês de café é caracterizado por uma busca constante por inovação. Bebidas que combinam café com chá, frutas e outros ingredientes locais têm ganhado popularidade, refletindo a adaptabilidade das marcas às preferências dos consumidores chineses.
Além disso, o café instantâneo continua a ser uma escolha popular, representando uma parte significativa do consumo total. Empresas como a Nestlé dominam esse segmento, com estratégias focadas em conveniência e sabor adaptado ao paladar local.
Café e vida social
Cada vez mais o estilo de vida ocidental vendido pelas grandes indústrias entra e começa a fazer parte da vida dos chineses. Encontros de trabalho ou de lazer em cafeterias passaram a simbolizar status e as grandes marcas vêm investindo em agregar ao café o glamour que o chá não oferece.

A estimativa é que o mercado chinês seja o de maior crescimento potencial no mundo: 17% ao ano. É fácil de se imaginar porque: mesmo que o consumo de café per capita ainda seja baixo, a China tem entre 500 e 600 milhões de potenciais consumidores.
O futuro do café na China
Com uma população de mais de 1,4 bilhão de pessoas e uma classe média em expansão, o potencial de crescimento do mercado de café na China é vasto. As tendências indicam uma continuidade na ascensão do consumo, impulsionada por jovens urbanos em busca de novas experiências e estilos de vida modernos.
A China, tradicionalmente uma nação de chá, está se reinventando como um dos mercados de café mais vibrantes do mundo. Essa transformação oferece oportunidades únicas para produtores, torrefadores e marcas que desejam fazer parte dessa jornada emocionante.

Gostou de conhecer mais sobre o café na China?
Não deixe de explorar outros artigos da série Café pelo Mundo e descubra como essa bebida apaixonante é apreciada em diferentes culturas ao redor do globo.
Agora, cafeinado, comente aqui abaixo: você já conhecia a relação desse país inovador com nossa bebida favorita? O cafézinho!
(Blogpost escrito em parceria com a jornalista Carol Lemos.)
Respostas de 6
Uau!!! Muito interessante, especialmente este na terra do chá, é para tomar uma xícara do Café Grão Gourmet e “viajar” no conteúdo deste artigo. Parabéns!!!
Sensacional os textos com as histórias do Café pelo mundo. É relaxante. Muito bom!!!
Obrigada Simone 😉
Continue acompanhando!
Obrigada Marcelo! Continue acompanhando 😉
Re e equipe!! Sempre um prazer ler os textos informativos e bem montados. Quando vao escrever sobre a Espanha? Tenho interesses pessoais hahahah aguardo, beijo!
Oi Fernando! Tudo bem? Obrigada e continue acompanhando 😉
Vou colocar sua sugestão para a Carol, quem escreve os textos. Um abraço, Renata