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Café pelo mundo: Turquia

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Imagine olhar para o fundo da sua xícara de café e descobrir o que o futuro lhe reserva nas próximas horas, dias ou anos. Essa é uma das tradições fascinantes da Turquia relacionadas ao café, uma bebida profundamente enraizada na história do país.

A chegada do café à Turquia

O café foi introduzido na Turquia por volta de 1555, durante o reinado do sultão Suleiman, o Magnífico. Ozdemir Pasha, da casta militar dos mamelucos no Egito que, durante seu mandato como governador otomano do Iêmen, trouxe a bebida para Constantinopla (atual Istambul) após se encantar com seu sabor e efeitos estimulantes. Rapidamente, o café conquistou a corte otomana, tornando-se a bebida preferida do palácio imperial.

pequena cafeteira de cabo longo com um lábio de despejo projetado especificamente para fazer café turco. Feito de cobre. Servindo duas xícaras de porcelana

Para preparar o café do sultão, foi criado o cargo de “kahvecibaşı” (chefe dos cafezeiros), uma posição de grande confiança e prestígio. Muitos que ocuparam esse cargo, ascenderam a posições elevadas, como a de Grão Vizir (primeiro-ministro), evidenciando a importância do café na corte otomana.

As primeiras casas de café

A primeira casa de café de Constantinopla, chamada Kiva Han, foi inaugurada em 1554 no distrito de Tahtakale. Estabelecimentos como esse rapidamente se multiplicaram, tornando-se centros de encontro para discussões literárias, políticas e sociais. As casas de café desempenharam um papel crucial na vida urbana, sendo apelidadas de “escolas dos sábios” devido às conversas intelectuais que ali ocorriam.

Proibição e resistência

O crescente número de casas de café e as discussões que nelas aconteciam preocuparam as autoridades. Em 1656, o sultão Mehmet IV, influenciado por conselheiros religiosos, proibiu o consumo de café, alegando que a bebida poderia incitar rebeliões.

A Declaração feita pelo Sheikh ul-islam (o xeique do islã, a maior autoridade nos assuntos do Islã) dizia: “proibido o consumo de qualquer tipo de alimento torrado até possuir cor próxima do carvão”. 

Naquela época, os cafés eram torrados em placas de ferro de pequeno tamanho e praticavam uma torra acentuada, que gerava um café escuro, que era moído e servido apenas no momento do consumo.

Em função desta Declaração, cafés foram fechados, e todas as sacas de café vindas do Iêmen foram derramadas no Estreito de Bósforo no dia seguinte.

No entanto, a população encontrou maneiras de continuar consumindo a bebida, como utilizar torras mais claras para disfarçar o aroma característico (imagina ficar sem?).

Kahvesi: mais que uma bebida, uma tradição

Tomar um café turco, ou “Türk kahvesi“, é vivenciar uma tradição que permeia a cultura e o cotidiano dos turcos.

Palavras como “kahvaltı” (café da manhã, literalmente “antes do café”) e “kahverengi” (cor marrom, literalmente “cor do café”) demonstram a importância do café na língua e cultura turca.

A leitura da borra de café

Uma tradição única do café turco é a leitura da borra, conhecida como “tasseografia“.

mulher virando xícara de café em pires para fazer a leitura da borra

Após consumir o café, a xícara é virada de cabeça para baixo sobre o pires, e os padrões formados pela borra são interpretados para prever o futuro. Essa prática, que remonta ao período otomano, permanece popular até hoje, especialmente entre mulheres, e é frequentemente oferecida como serviço turístico em cafés tradicionais.

O ritual do café no noivado

Na cultura turca, durante a cerimônia de noivado, a noiva prepara café para os convidados. Uma tradição curiosa envolve a noiva adicionar sal ao café do noivo em vez de açúcar.

A reação do noivo ao beber o café salgado é observada como um teste de seu caráter e paciência. Após o consumo, a leitura da borra é realizada, adicionando um toque místico à ocasião.

O preparo do café turco

O café deve ser negro como o inferno, forte como a morte e doce como o amor

O café turco é preparado com grãos moídos bem finos, quase como farinha, em um recipiente chamado “cezve” ou “ibrik“. A mistura de café, água e açúcar (se desejado) é aquecida lentamente até formar uma espuma espessa. Especiarias como cardamomo, canela ou anis-estrelado podem ser adicionadas para realçar o sabor.

cezve feito de cobre servindo duas xícaras de porcelanas

A bebida é servida em pequenas xícaras, acompanhada de um copo de água para limpar o paladar antes do consumo. A bebida resultante fica extremamente concentrada, por isso não se deve mexer o café após o servir, pois isso perturba a sedimentação do pó e deixa a bebida arenosa. Cada xícara é espumosa e deliciosamente aromática.

Kurukahveci Mehmet Efendi: tradição e inovação

Até o final do século XIX, os turcos compravam grãos de café verdes, que eram torrados e moídos em casa. Em 1871, Mehmet Efendi revolucionou esse processo ao começar a torrar e moer o café em sua loja, vendendo-o pronto para o preparo.

Sua marca, Kurukahveci Mehmet Efendi, tornou-se sinônimo de café turco de qualidade e continua em operação até hoje, sendo uma das empresas mais antigas da Turquia.

embalagens do café da marca Kurukahveci Mehmet Efendi, duas latas decoradas e pacotes unitários de café

O consumo de café na Turquia hoje

Embora o chá continue sendo a bebida mais consumida na Turquia, o consumo de café tem aumentado significativamente. Atualmente, o consumo per capita de café no país é de 1 a 1,2 kg por ano, refletindo uma crescente apreciação pela bebida, pois isso é quase o triplo do que era quando começou nosso clube de assinatura! A Turquia importa a maioria de seu café, principalmente da América Latina, com destaque para o Brasil.

Reconhecimento internacional

Em 2013, a “cultura e tradição do café turco” foi inscrita pela UNESCO na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, reconhecendo sua importância histórica e cultural.

O café turco não é apenas uma bebida — é um símbolo de identidade, tradição e hospitalidade. Cada xícara traz consigo séculos de história, mistérios e rituais que resistem ao tempo. Do palácio imperial às casas modernas de Istambul, o café continua sendo um elo entre passado e presente, unindo pessoas em torno de uma mesa e de uma boa conversa.

E você, já provou um autêntico café turco ou se aventurou na leitura da borra? Compartilhe sua experiência nos comentários!

E se quiser continuar viajando conosco pelos sabores e histórias do café ao redor do mundo, explore os outros artigos da série “Café pelo Mundo”. Tem muita cultura ainda pela frente — sempre acompanhada de uma boa xícara.

(Blogpost escrito em parceria com a jornalista Carol Lemos.)

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Respostas de 12

    1. Que bom que gostou Ines! Continue viajando conosco na série Café pelo Mundo! Um abraço, Renata

    2. Obrigada Silair! O café é cheio de história pelo mundo, estamos desvendando algumas delas 😉 Um abraço, Renata

  1. Amo café turco,fui A Turquia 2 vezes e me apaixonei tb pelo café.Meu café que trouxe acabou,tem alguma dica de café em grãos aqui do Brasil que posso usar?

    1. Olá Marcus, tudo bem?
      Que bacana sua experiência na Turquia!
      A dica de café é o do Grão Gourmet 😉
      Que tal fazer uma assinatura? Podemos moer bem fino para fazer um café turco…rs

  2. Estou assistindo um seriado turco e vejo o quanto eles tomam essa bebida deliciosa. Adorei a matéria. Grata por esse aprendizado. Desejo felicidades.

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