Lembra da nossa série “Contos Cafeinados”?
Ela está de volta!
Nela publicamos diversas histórias relacionadas à bebida que tanto amamos, o café, e quem conta a história é você!
O conto de hoje foi enviado por uma assinante do Grão Gourmet, que, além de professora, é poeta 😉
Café gourmet
– Rúbia está demorando… O que será que houve?
Pensava Oliver, preocupado com a demora de sua esposa. O céu iniciava sua metamorfose, nos ventos fortes que traziam as nuvens carregadas. A possível chuva que era tão bem-vinda, de repente tomou a forma de um obstáculo frente a ausência da mulher daquela pequena casa.
Eles moravam longe dos aglomerados urbanos, por escolha própria de quem queria mais bem-viver. Uma casa modesta, com suficientes coisas, objetos ou utilidades que os faziam felizes, sem necessidade das compras compulsivas, possivelmente responsáveis pelas grandes mudanças civilizatórias. As nuvens que lá surgiam eram como a tela do René Magritte, inspiravam a vida com toque de arte e poesia.
Mas Rúbia demorava. O celular não chamava, embora ele tivesse feito a tentativa de ligar, de enviar mensagens, e de entrar em contato. Mas era um lugar sem muito acesso à internet, especialmente quando havia ameaças de chuvas. Sem muito o que fazer, ligou o fogão e aqueceu a água. No ritual cotidiano, pegou o café e só então a memória veio povoar o momento.
O aroma aveludado entrava nas narinas como labirintos pretéritos, recheados de ações que tinham ocorrido, contudo havia uma projeção do futuro. Reviver a memória, de fato era uma redescoberta, um novo momento de olhar para a frente, enfeitando o horizonte futuro. Ali brincando com a memória, descobriu que as nuvens se desmanchavam em chuvas torrenciais, obrigando-o a fechar as portas e janelas. Com a casa fechada, parecia que a fragrância do café brincava com a memória de forma mais intensiva. As pequenas fumaças de vapor dançavam no ar, ao som do barulho das chuvas. E o aveludado sabor daquele café trazia também o cheiro de vida.
Oliver estava embalado pelo perfume do café, vendo as danças das fumacinhas bailarinas, degustando um sabor que misturava lembranças passadas com planos do amanhã. A magia do café se explodia nas texturas da vida e ele não sabe quanto tempo ficou assim meio embriagado, entre as saudades pretéritas e as esperanças do amanhã.
Michèle Sato – Professora da UFMT e poeta
PS: o desfecho do conto é por conta (e risco) de cada leitor.
Se você também tem uma história bacana sobre café e gostaria de vê-la publicada, mande seu conto para contato@graogourmet.com.
Os contos selecionados serão presenteados com um brinde especial.
Aproveite e também conheça nosso clube de assinaturas!
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Respostas de 32
Conheço Michele e admiro sua grande sensibilidade e sabedoria. Belo texto amiga! E parabéns ao Grão Gourmet por nos proporcionar esse espaço de compartilhar nossas experiências e belas histórias dessa bebida tão presente em cada lar.
Bem legal!
Gostei muito…
Meu final ela chega ensopada de chuva… e o café fica para depois….
Depois de banho quente e seca café, e olhar a chuva… Cheiro de terra molhada de chuva depois de dias sem chover, é quase tão bom quanto o cheiro de café…
Adorei…a casinha da historia lembra o aconhego e aroma de café descrito no conto, lembra a casa minha vó. Irei pensar em um desfecho bem bacana.
Bjs de confetos
Mimi sempre com uma delicadeza encantadora! Quem diria que Oliver e eu viraríamos poesia em forma de conto nas linhas de Mimi! Que honra! Que alegria!
Senti até o cheirinho do café com chuva. Ao senti-lo, fiz uma viagem no tempo, uma viagem sem tempo.
Obrigada, Mimi! Amamos você!
Lindo e pictórico conto! Senti aqui o delicioso aroma do café do Oliver. Rubia, chegue logo!! ?
Nostálgico e terno. Lindo conto!
Aqui vai um final possível, Mimi:
“Eis que Rúbia invade a cozinha sorrindo. Um brilho novo de seus olhos mirava os de Oliver.
– Por onde andaste, minha flor?
– Demorei-me, não? Desculpe-me. Mas trouxe mais uma notícia para a nossa vida.
– Boa ou ruim?
– Bem, mais um, nesta casa, vai sonhar com as nuvens de Magritte.
Ela esticou a mão e entregou uma chupetinha a Oliver.
– Um filho? Bem que meu coração bateu mais forte hoje!
E bailaram e sorriram e divertiram-se com a notícia, desta vez a três.”
Que texto belíssimo, querida Michèle Sato!
“O aroma aveludado entrava nas narinas como labirintos pretéritos”
Fiquei encantada com os percursos poéticos e com os diálogos propostos.
Abraços
Em “CONTOS CAFEINADOS 10” da Professora e poeta, Michele Sato (UFMT), vejo um pretérito poetizando um futuro, o que nos apraz a degustar uma saudade e uma espera presente no sabor de uma xícara de café, numa tarde de fina chuva, para brincar com a nossa memória afetiva. Parabéns e obrigado por me permitir a construir um / meu desfecho na sua poesia.
Obrigada Carlos! Seu comentário já é um poema 😉
Gostei desse desfecho Negrus 😉
Rubia! É você mesma?? 😉
Pode nos escrever seu desfecho nos comentários 😉
obrigada renata, pela publicação do conto e pelas respostas atenciosas aos bons amigos que vieram me ler 🙂 beijo grande
O café é uma boa companhia, é um amigo que conversa com a gente pelo aroma, sabor, contato….e em devaneios nos leva aonde a imaginação fluir.
Lindo Mi!
querida denize
gratidão pelo comentário, pela amizade, pela fluidez do bem-viver cotidiano! adoro vc!
Gente! E estes comentários? A gente da minha terra falaria que são a côsa maix quiriiiida!!
Obrigada, Mimi, por proporcionar tanta belezura!!!
vc está famosa minha amiga
os comentários no facebook também foram numerosos e bacanas! beijo minha inspiração 🙂
Lindo conto, Mi. Sempre nos encantando com seus belos escritos.
Bjs
Que lindo Mimi, amei o seu conto. Fiquei contagiada que enviei o meu também.
que maravilha aidil, o café gourmet ficará feliz em saber que vc atravessa o atlântico e traz sua linda contribuição ao brasil. GRATA minha doce amiga cabo-verdiana!
rob querida, gostei da sua presença no espaço. GRATIDÃO