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Café pelo mundo: Jamaica

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Palmeiras-de-cera altíssimas em colinas verdes do Vale do Cocora, envoltas por neblina, enquadradas por folhagens em primeiro plano.

A Jamaica responde por menos de 0,1% da produção mundial, mas o seu Blue Mountain Coffee figura entre os cafés mais caros do planeta. O segredo: uma cadeia curtíssima, rigor de classificação estatal e uma narrativa de terroir que começou em 1728, quando Sir Nicholas Lawes trouxe seis mudas de Typica da Martinica. Hoje, apenas 6.000 ha entre 910 m e 1.700 m carregam o selo “Blue Mountain” — cada barrica de 70 kg sai numerada e lacrada por inspetores da JACRA (Autoridade Regulatória de Commodities Agrícolas da Jamaica).

Como o café chegou (e cresceu)

Ano Marco Detalhe
1728 Primeiras mudas Lawes planta as primeiras mudas próximo a Kingston; em nove anos a ilha já exportava 37 t. (JA Coffee)
1737–1768 Escalada às montanhas A produção migra para altitudes mais frias; exportação sobe vertiginosamente.
1891 Revitalização Especialistas de Londres chegam para ensinar técnicas de cultivo e processamento, revitalizando a indústria.
1953 Coffee Industry Board Cria padrões, lotes numerados e barricas de cedro. (Ministério da Justiça)
1980-2004 Resiliência Furacões e tempestades tropicais castigam severamente os produtores (Fórum de seguros)
2017 JACRA O board vira agência multicommodities; mantém auditoria lote a lote. (Boot Coffee)

O famoso Blue Mountain

Blue Mountain ≠ High Mountain ≠ Low Mountain:

  • Blue Mountain (910 – 1.700 m de altitude) → acidez cítrica fina, corpo sedoso.
  • High Mountain (460 – 910 m) → perfume floral mais discreto, corpo moderado.
  • Supreme/Low Mountain (< 460 m) → doçura caramelada, menor acidez.

A divisão é lei: vender café de 800 m de altitude como “Blue Mountain”, por exemplo, gera multa e bloqueio de exportação.

Por que Blue Mountain “cola” na mente?

  • Selo único, história única: seis mudas geraram um terroir-boutique.
  • Barrica numerada: embalagem distinta que virou ícone.
  • Consistência de narrativa desde 1953.
  • Escassez real (6.000 ha) + forte demanda japonesa.

Furacões & resiliência

Desde 1980 com o furacão Allen, passando por Gilbert, Ivan, Dean… não faltam desafios climáticos para se cultivar na Jamaica. O furacão Gilbert (1988) destruiu quase 75% dos cafezais; o furacão Ivan (2004) arrancou outros 40% e derrubou US$476 mi em receita de exportação. A resposta foi um programa de replantio co-financiado pelo Japão (que compra ~70% da safra jamaicana desde 1967) e pela JACRA: mudas clonadas de Typica resistentes a ventos, podas baixas e adensamento maior para reduzir perdas. Mesmo com esses esforços, as exportações não voltaram aos níveis anteriores ao furacão.

Mercado minúsculo, ticket gigante

O mercado global de Blue Mountain gira em torno de US$200 mi/ano (cerca de R$1,08 bi), com preço FOB que chega a US$50/kg nos lotes “Grade 1”. Apesar da Jamaica ser somente o 45o maior exportador de café, o Blue Mountain sozinho é responsável por 1% do PIB nacional, o dobro da representatividade da produção cafeeira com o PIB no Brasil!

Ponte com o Brasil e a crise de 1989

Antes de 1989 o Brasil detinha volume; a Jamaica, o valor agregado. Com o colapso do Acordo Internacional do Café, o preço médio caiu de US$1,34/lb para US$0.77/lb (R$15,98 → R$9,18 por kg; R$ 959 → R$ 551 por saca de 60 kg, câmbio de R$5,40). De lá em diante, enquanto o Brasil investia em mecanização, a Jamaica dobrou a aposta no controle de origem: hoje cada barrica tem QR Code rastreável.

Café no dia a dia jamaicano

Blue Mountain Coffee - o mais delicioso do mundo.

o personagem James Bond e uma bancada de sua casa com uma máquina de espresso La Pavoni Europiccola
Roger Moore como James Bond, o agente secreto 007, prepara seu café favorito no filme Viva e Deixe Morrer.

O consumo interno ronda 2,5 kg per capita — discreto comparado ao Caribe francês, mas parte da rotina: coado com papel em Kingston, capital da Jamaica e greca (moka) nos vilarejos. Quem quer algo “local” pede o café com um dash de rum ou com o licor Tia Maria. O licor foi criado em 1946 por Morris Cargill e Dr. Ken Evans usando grãos Blue Mountain e rum. Na sequência, trazemos uma recomendação de como preparar café Jamaica Blue Mountain com um dash de rum, utilizando o método de infusão por gotejamento para extrair o sabor e aroma característicos desse tipo de café especial.o dash de rum, utilizando o método de infusão por gotejamento para extrair o sabor e aroma característicos deste tipo de café especial.

Método “JBM Drip” (V60)

  1. 20 g de JBM Grade 1, moagem média-fina.
  2. Bloom 40 g água (30’’).
  3. Fluxo contínuo até 200 g (1’30”).
  4. Termine em 300 g (3’15”).
  5. Opcional: 15 ml de rum envelhecido + raspas de noz-moscada.

Notas: jasmim, caramelo leve, final de cacau.

  1.  

Mini-roteiro Blue Range

Já tem a fazenda Blue Mountain na sua lista de destinos turísticos? Se você é coffee lover e planeja uma viagem à Jamaica, não deixe de conferir nossos recomendações: 

  • Mavis Bank Coffee Factory – tour guiado pela Mavis Bank Coffee Factory, aprendendo sobre colheita, lavagem e secagem; termina com degustação de café Blue Mountain.
  • Old Tavern Coffee Estate – prova vertical de microlotes colhidos em diferentes altitudes para sentir como o terroir muda o perfil de sabor.
  • Trilha Blue Mountain Peak – caminhada no Parque Nacional Blue and John Crow Mountains, atravessando plantações e micro torrefação artesanal até o topo de 2.256 m.

A Jamaica prova que terroir + narrativa + controle podem transformar um grão de commodity em luxo legítimo. Comente e siga a série Café pelo Mundo!

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