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Café pelo mundo: Alemanha

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A Alemanha pode até não produzir um só grão de café, mas sua contribuição para a cultura cafeeira mundial é inegável. Berço da cafeteira por infusão e do icônico filtro de papel, o país também carrega uma história fascinante sobre como o café foi ganhando espaço nas mesas, nas mentes e até nas partituras alemãs.

Prepare seu Schwarzkaffee e venha descobrir como a Alemanha transformou o café em paixão e polêmica cultural ao longo dos séculos.

As primeiras xícaras na Europa

O primeiro registro europeu sobre o café foi feito por um alemão. O médico, botânico e explorador Leonhard Rauwolf relatou, em 1582, a existência de uma bebida escura e medicinal durante sua viagem ao Oriente Médio. Ele descreveu o “Chaube” como uma bebida “quase tão preta quanto tinta” e com bons efeitos para o estômago.

Depois, autores como Adam Olearius e Johann von Mandelsloh também mencionaram o café em suas publicações de 1637. Mas foi apenas na década de 1670 que o consumo começou de fato na Alemanha, com a abertura da primeira casa de café em Hamburgo, fundada por um inglês em 1679.

Café no cotidiano alemão

Logo a bebida ganhou as cidades: Regensburg (1689), Leipzig (1694), Nuremberg (1696), Stuttgart (1712), Augsburg (1713) e Berlim (1721). O café substituiu a sopa de farinha e a cerveja quente no café da manhã, principalmente entre os burgueses.

No norte da Alemanha, os grãos vinham da Inglaterra. No sul, da Itália. E em Berlim, mais de uma dúzia de casas de café se espalhavam pelas ruas, com barraquinhas também atendendo aos subúrbios.

O primeiro periódico de café da Alemanha foi publicado em Leipzig em 1707 pelo italiano Theophilo Georgi. Em 1721, Leonhard Ferdinand Meisner lançou o primeiro tratado alemão sobre café, chá e chocolate.

Quando o café virou música

Apesar da popularização acelerada na segunda metade do século XVIII, o café também encontrou forte resistência, especialmente entre médicos, que alegavam que a bebida causava esterilidade (!) e transtornos para as mulheres.

Foi em meio a essa polêmica que surgiu a icônica Café Cantata (Kaffeekantate, BWV 211), composta por Johann Sebastian Bach, a pedido de Gottfried Zimmermann, dono do Café Zimmermann, uma casa de café em Leipzig que também abrigava o Collegium Musicum, uma sociedade de música fundada por Georg Phillip Teleman e dirigida por Bach entre 1729 e 1739. O café vendido financiava os concertos gratuitos da sociedade musical.

A cantata é uma sátira sobre o medo exagerado do café, contando a história de Aria, uma jovem viciada na bebida, e seu pai conservador, Schlendrian, que tenta dissuadi-la a não tomar café, a qualquer custo, inclusive oferecendo-lhe um marido! Mas ela chega a responder:

"Paizinho, não sejas tão mau. Se eu não beber meu café, minhas curvas vão secar, minhas pernas murchar, e ninguém comigo irá casar."

De acordo com a musicóloga Katherine R. Goodman, a Café Cantata teria tido suas primeiras apresentações na Romanushaus, casa de Christiane Mariane von Ziegler (1695-1760). Christiane escreveu diversos textos para nove cantatas de Bach e Goodman sugere que ela teria escrito o seguinte trecho da Café Cantata:

“Como os gatos sempre perseguirão seus ratos, então as senhoras bebem seus cafés. Se as mães e as avós adoram café, então, quem pode culpar as filhas?”

Aqui, você pode escutar a cantata conduzida pela Filarmônica da Universidade de São Paulo e acompanhar a tradução do alemão para o português:

Café proibido e cerveja no lugar

Durante o reinado de Frederico, o Grande, a bebida foi alvo de um verdadeiro bloqueio. Preocupado com o dinheiro que saía do país para importar café, o rei publicou um manifesto em 1777 dizendo que o povo deveria beber cerveja.

“É desagradável notar o aumento da quantidade de café usada por meus súditos, e a quantidade de dinheiro que sai do país em consequência. Todo mundo está usando café. Se possível, isso deve ser evitado. Meu povo deve beber cerveja. Sua Majestade foi criada em cerveja, assim como seus antepassados ​​e seus oficiais. Muitas batalhas foram travadas e conquistadas por soldados alimentados com cerveja; E o rei não acredita que os soldados que bebem café possam depender para suportar dificuldades ou vencer seus inimigos em caso de ocorrência de outra guerra.”

Em 1781, vendo que a população continuava a apreciar o café apesar de seus esforços, Frederico estabeleceu um monopólio real do café e proibiu a torra fora dos estabelecimentos da realeza, com exceções nos casos da nobreza, do clero e dos funcionários do governo. Nobres podiam, o povo não. Resultado? O café virou artigo de luxo e desejo.

A mulher que revolucionou o preparo

Se você já usou um filtro de papel, agradeça à alemã Melitta Bentz. Incomodada com os resíduos deixados por outros métodos e após várias experimentações, em 1908, ela usou um pedaço do caderno do filho e uma caneca de latão furada para criar o primeiro filtro de papel para café.

imagem antiga de Melitta Benz, cabelos presos, vestido de gola alta com babados

No mesmo ano, registrou a patente e fundou a empresa Melitta. Em 1909, a empresa vendeu 1200 filtros em uma feira em Leipzig com seu marido Hugo e seus filhos Horst e Willy como seus primeiros empregados. Hoje, a companhia é comandada pelos bisnetos de Melitta, Thomas e Stephen Bentz, e tem mais de 3.000 colaboradores em 50 filiais pelo mundo. No Brasil, a marca Melitta chegou em 1968.

E hoje, como se toma café na Alemanha?

Apesar da fama de café “fraco”, o que diferencia o café alemão é a torra mais clara, que resulta em bebidas mais suaves. O jeito Melitta de fazer café é o mais comum nas casas. Em padarias e cafeterias, o pedido clássico é o Schwarzkaffee (café preto).

porta retrato de Melitta Benz e ao lado o primeiro protótipo de seu famoso método de preparo de café
Protótipo do Melitta criado por Melitta Benz.

A Alemanha, em 2023, foi o segundo maior importador global de café verde, com mais de 1,1 milhão de toneladas, segundo o Relatório do Departamento de Agricultura dos EUA – USDA. Apesar de não produzir café, isso é possível por sua capacidade de importar e reexportar ao mundo. Importa do Brasil, reprocessa (por exemplo, via Nespresso) e revende com valor até 70 vezes maior que o original pago ao produtor. Quer saber mais? Assista esse vídeo:

Muito mais que uma bebida

Na Alemanha, o café nunca foi só uma bebida quente. Foi provocação, foi música, foi invenção. Inspirou artistas, incomodou reis, conquistou mulheres e ganhou uma marca que virou sinônimo de praticidade.

E hoje, segue firme: reinventado, processado e exportado como produto de valor agregado.

coador Melitta de plástico passando café, abaixo uma balança, sobre uma bancada de cozinha

Conta pra gente: quais são suas memórias com o filtro Melitta? Já sabia que ele é alemão?

Deixe seu comentário aqui embaixo e continue explorando nossa série  Café pelo Mundo!

(Blogpost escrito em parceria com a jornalista Carol Lemos.)

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Respostas de 7

    1. Que bom que gostou Marcelo 😉 Continue acompanhando nossa viagem! Um abraço, Renata

  1. Ufa!, sabendo do detalhe do schwarzkaffee, não vou passar apuros quando estiver por lá … Em tempo: Bach & Schwarzecaffee, tudo a ver!!!

    1. Oi Adriano, tudo bem? Isso mesmo 😉 Continue acompanhando nossa série! Um abraço, Renata

    1. Oi Marcio, tudo bem? Que bom que gostou 😉 Continue acompanhando nossa viagem! Um abraço, Renata

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