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O fim do Acordo Internacional do Café (1989)

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Trabalhadores em armazém de exportação de café, ao entardecer, inspecionando sacas cheias de grãos crus empilhadas em fileiras

Quando falamos de café, não basta olhar para terroir e xícara: a política global também molda o que chega até nós consumidores. Um dos marcos mais importantes da história recente foi o fim do Acordo Internacional do Café em 1989 — um evento que derrubou preços, desestabilizou produtores e obrigou países inteiros a reinventarem sua estratégia.

Se na Colômbia o café virou identidade nacional (Juan Valdez e o Eje Cafetero) e na Jamaica o Blue Mountain se consolidou como luxo boutique, ambos sentiram o impacto do colapso. Assim como o Brasil, maior produtor do planeta.

Antes do colapso: o sistema de cotas

Desde 1962, o Acordo Internacional do Café (International Coffee Agreement, ICA) estabelecia cotas de exportação entre países produtores, sustentando preços mínimos no mercado internacional. Segundo Akiyama (1990), esse sistema deu estabilidade por quase três décadas.

O preço médio internacional orbitava entre US$1,20 e US$1,40 por libra, de acordo com a International Coffee Organization (2004).

1989: Ruptura e queda

Em julho de 1989, os EUA recusaram renovar o acordo, alegando “distorções de mercado”. O sistema de cotas foi suspenso. O impacto foi imediato: como aponta estudo da Universidade de Wageningen, o preço médio do café caiu de US$ 1,34 para US$ 0,77 por libra (R$15,98 → R$9,18 por kg, câmbio de R$5,40) nos cinco anos seguintes.

Segundo a ICO (2004), milhões de pequenos agricultores em países dependentes da commodity mergulharam em crise.

Fazenda colombiana

Colômbia: marketing como defesa

A Colômbia reagiu ativando sua arma mais poderosa: a Federação Nacional de Cafeicultores (FNC). De acordo com a ICO (2004), o país fortaleceu o Fundo Nacional do Café, lançou denominações de origem (Nariño, Huila) e reforçou campanhas globais com Juan Valdez.

👉 Resultado: mesmo com preços baixos, a Colômbia preservou renda no campo e sustentou visibilidade internacional.
(Leia mais: Café pelo mundo – Colômbia)

Fazenda jamaicana

Jamaica: exclusividade como resposta

Na Jamaica, o caminho foi outro. O Coffee Industry Board — depois substituído pela JACRA — garantiu lotes numerados e selos de origem, transformando cada barrica de Blue Mountain em um produto rastreável e exclusivo.

Além disso, a aliança com o Japão, que compra cerca de 70% da safra, deu sustentação aos preços.

 👉 Resultado: mesmo após furacões e crise global, o Blue Mountain seguiu como ícone mundial.
(Leia mais: Café pelo mundo – Jamaica)

Brasil: mecanização e escala

Já o Brasil, gigante do setor, optou por intensificar a mecanização no Cerrado Mineiro e investir em produtividade. Essa estratégia garantiu competitividade em meio à queda dos preços, embora o país só tenha explorado mais a diferenciação e o café especial a partir dos anos 2000.

Legado da crise

O fim do Acordo Internacional do Café mostrou que a bebida é também geopolítica.

  • A Colômbia provou que marketing salva reputação.
  • A Jamaica demonstrou que escassez e origem controlada sustentam valor.
  • O Brasil aprendeu que quantidade sem qualidade tem limites.

O movimento global dos cafés especiais nasceu em grande parte dessa crise: produtores foram forçados a buscar qualidade, diferenciação e contato direto com consumidores.

📌 Esse artigo é um incremento para a série Café pelo Mundo.

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